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Tesouros: Brasil tem sete ecossistemas diferentes sob ameaça em seu litoral

14 de maio de 2017
7 min. de leitura
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Quem passeia pela praia, por rochas e desembocaduras de rios está na verdade visitando diferentes habitats  marinhos. Sabe aquela praia que você achava que estava deserta? Devia saber quem se escondia embaixo da areia. Os ecossistemas costeiros têm uma enorme biodiversidade, que inclui desde bactérias, algas, plantas, crustáceos e moluscos, até peixes, aves e mamíferos.

Montagem com praias e peixes
Foto: Lúcio Távora/BA PRESS/Edmar Melo/Folhapress/Getty Images.

“Nesses habitats há representantes de todos os filos existentes na natureza”, diz Alexander Turra, professor do Instituto Oceanográfico da USP (Universidade de São Paulo). Tem as baratinhas-da-praia nas rochas, os caranguejos na areia, as bolachas-da-praia na região submersa, uma profusão de peixes, crustáceos e moluscos rodeando recifes de corais e formações de algas calcárias.

São sete os biomas que podemos visitar com certa facilidade quando estamos no litoral: bancos de rodolitos, costões rochosos, estuários, fundos vegetados, manguezais e marismas, praias e recifes coralinos. Mais longe da costa, há outros habitats marinhos, como a plataforma continental e o mar profundo.

Alguns funcionam como berçários para diversos organismos, outros são purificadores das águas. Uma outra grande contribuição que os habitats costeiros dão está relacionada à regulação do clima. Os ecossistemas da costa são capazes de armazenar milhões de toneladas de carbono, captando gases de efeito estufa, que  provocam aquecimento global.

O problema é que, em vez de ampliarmos essas áreas como estratégia de combate ao aquecimento global, elas têm sido destruídas. “São várias ameaças, como esgoto urbano, lixo, desmatamento de manguezais, ocupação não planejada de praias e costões rochosos, mineração de calcário, pesca de arrasto”, enumera o biólogo.

Conheça os ecossistemas e suas ameaças

Estuários

Imagem de estuários
Foto: Getty Images

O que são: Onde a água doce do continente se encontra com a água salgada do mar. Os estuários têm partes mais rasas e constituídas de lama e áreas de maior turbidez e mistura com a água do mar.

Onde estão: Nas desembocaduras de rios e em reentrâncias costeiras onde há mistura entre água doce e salgada.

Quem vive lá: Diversos peixes, como o linguado,  se beneficiam de alimentos trazidos pelas águas fluviais e pela dinâmica das marés. O peixe-boi, um mamífero, costuma viver em regiões lamacentas do estuário. Os nutrientes que se depositam nessas regiões também atraem aves, como os colhereiros.

Ameaças: As regiões de estuário são vulneráveis à poluição proveniente do continente. Um exemplo de impacto de enorme proporção nesse habitat foi a contaminação das águas do rio Doce pelo rompimento de uma barragem da
mineradora Samarco, em Mariana (MG)

Costões rochosos

Costões Rochosos
Foto: Fernanda Terra Stori

O que são: Estruturas rígidas formadas por diferentes tipos de rochas.

Onde estão: Estão concentrados nas costas das regiões Sul e Sudeste.

Quem vive lá: organismos fixos, como algas, há os que se deslocam lentamente, como ouriços, e há aqueles mais ágeis, que correm nas pedras, como a as famosas baratinhas-da-praia (crustáceo isópode aparentado do tatuzinho de jardim).

Ameaças: Efeitos de perturbações climáticas, como tempestades mais intensas, podem alterar a dinâmica da biodiversidade de costões rochosos.

Praias

caranguejo na areia
Foto: Vitché Palacin/Folhapress

Onde estão: As praias arenosas, áreas de transição entre a terra e o mar, compreendem cerca de 75% da costa mundial. Existem também as praias de pedra. No Brasil, há presença de praias em praticamente toda a costa.

Quem vive lá: Há organismos que vivem enterrados na areia, como as poliquetas (anelídeos do mar), moluscos e crustáceos, e animais que andam sobre a areia, como caranguejos.

Ameaças: As praias estão entre os ambientes marinhos mais vulneráveis a problemas como despejo de esgoto e pisoteio.

Gramas marinhas

Imagem de gramas marinhas
Foto: Getty Images

O que são: São coberturas vegetais adaptadas à vida na água que formam pradarias submersas em zonas marinhas rasas. No mar, geram efeito semelhante a plantas de aquário: oxigenam a água, reciclam nutrientes e reduzem a turbidez. Além disso, são importantes berçários marinhos

Onde estão: São escassas as informações sobre a distribuição e extensão das pradarias de gramas marinhas. Pesquisadores do programa ReBentos estão realizando um mapeamento dessas áreas.

Quem vive lá: As gramas marinhas fornecem alimento e funcionam como berçário para invertebrados, peixes, tartarugas e peixe-boi.

Ameaças: Sofrem impactos da poluição e contaminação da água, da construções de portos, da pesca de arrasto, do turismo e da invasão de espécies. Eles também são vulneráveis ao aquecimento global.

Manguezais e marismas

Manguezais
Foto: Guetty Images.

O que são: Os manguezais e as marismas são berçários para muitas espécies marinhas, repletas de biodiversidade. Eles estão na transição entre habitats terrestres e marinhos. Nos mangues, as árvores são altas, de até 10 metros. Já nas marismas há predominância de plantas de baixa estatura.

Onde há: Os manguezais estão presentes nas costas das regiões Norte, Nordeste e Sudeste. Já as marismas ocorrem em regiões mais frias, concentrando-se na região Sul.

Quem vive lá: Destacam-se os caranguejos uçá e guaiamu. Além destes, há presença de outros crustáceos, peixes e moluscos (como sururus, mariscos e ostras), além de répteis (como algumas cobras), mamíferos (como a lontra) e aves (como gaivota e urubu), que procuram o local principalmente para se reproduzirem.

Ameaças: Os manguezais possuem grande importância como sumidouros de carbono (locais que retiram gases de efeito estufa da atmosfera). Contudo, são extremamente sensíveis às mudanças ambientais. Por isso, o grau de degradação de manguezais e marismas são indicadores dessas alterações.

Bancos de rodolitos

Mergulhador em bancos de rodolitos
Foto: Rodrigo Moura

O que são: Os bancos de rodolitos são formados por esferas calcárias, produzidas por algas vermelhas. É como um oásis em ambientes onde o leito arenoso é pouco convidativo para os organismos se fixarem.

Onde há: Da região Norte até Santa Catarina, sendo mais abundantes do litoral maranhense até o Rio de Janeiro.

Quem vive lá: Os bancos de rodolitos servem como abrigo e, indiretamente, alimento para uma extraordinária diversidade de organismos, como algas, poliquetas (anelídeos aquáticos), ofiuroides (serpentes do mar), moluscos, crustáceos e peixes.

Ameaças: A exploração direta, a pesca e a poluição costeira representam grandes ameaças a esses habitats. O aquecimento e a acidificação dos oceanos, fruto das mudanças climáticas e o aumento das tempestades, também colocam os bancos de rodolitos sob grande perigo.

Recifes de corais

Recife de corais
Foto: Marcelo Kitahara

O que são: São formações de calcário que configuram sistemas muito complexos e com riquíssima biodiversidade e grande profusão de cores. Quando morrem, os recifes de corais adquirem cor acinzentada.

Onde há: No Brasil, a maior formação de corais está na região Abrolhos e ao longo do litoral do Nordeste, incluindo a Baía de Todos-os-Santos. Ao largo da foz do rio Amazonas foi descoberto recentemente um grande banco de corais adaptado às condições de alta turbidez da região.

Quem vive lá: Muitos organismos vivem nos recifes de corais. Os recifes ocupam cerca de 0,02% da área oceânica e abrigam aproximadamente um quarto de todas as espécies marinhas.

Ameaças: Essas formações são sensíveis ao descarte de resíduos industriais e urbanos, mas a maior das ameaças talvez seja o aquecimento global. Cerca de 30% a 40% dos recifes de coral do mundo já estão severamente degradados devido ao aumento das temperaturas e da acidez dos oceanos.

Fonte: Uol

 

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