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Respondendo a quem diz que "não é verdade" que o consumo humano de leite faz mal

13 de janeiro de 2016
5 min. de leitura
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Em junho de 2015, uma matéria do El País mostrou uma suposta refutação de mitos sobre as consequências perniciosas do consumo de leite não humano e laticínios derivados para os seres humanos. Diversos argumentos, como a facilitação da osteoporose e a produção excessiva de catarro, são contestados ali. Mas a reportagem não conseguiu discordar do verdadeiro grande mal que os laticínios fazem: para os animais não humanos explorados e mortos pela pecuária.
A matéria em questão até pode deixar sem palavras uma pessoa que tenta convencer outras a pararem de consumir leite, queijo, manteiga, iogurte etc. por motivos relativos à saúde. Mas também pode indiretamente nos alertar que o foco que precisamos realmente adotar é na exploração animal.
Ao contrário do que a reportagem pode deixar a entender, o problema real do consumo de leite não é meramente a saúde humana. Mas sim o fato de que, para se produzir leite, é necessário tratar animais – mamíferas e seus filhotes – como coisas, como “máquinas inteligentes” a serem lidadas ou com crueldade em galpões de fazendas industriais, ou com bem-estarismo falsamente humanitário em fazendas de leite orgânico.
O regime de objetificação e exploração é ainda mais cruel para a produção de leite do que a própria pecuária “de corte”, aquela destinada principalmente a “fornecer” carne. Nas criações leiteiras, as fêmeas são obrigadas a dar leite todos os dias, sendo confinadas num local reservado à ordenha, caso das criações extensivas e semiextensivas, ou vivendo aprisionadas em baias de fazendas-fábrica.
Esse tipo de exploração “fornecedora” constante, intensiva e diária não acontece nas criações “de corte”, nas quais o animal é alimentado, aguarda o dia de ser assassinado e tem seu corpo de fato explorado depois de morto. Mas isso não quer dizer, a saber, que a pecuária produtora de carne seja “mais ética” ou “menos inaceitável” do que a leiteira.
Além disso, são regularmente submetidas a violações sexuais, com inseminação artificial periódica, para darem à luz. Afinal, seu leite, naturalmente falando, é produzido para alimentar os filhotes, e é literalmente roubado pelos pecuaristas. E em muitas criações, os bezerros, cabritos e cordeiros são separados definitivamente de suas mães poucos dias ou mesmo horas depois de nascerem, e são ou destinados ao confinamento para “virar” carne de vitela, ou simplesmente são abatidos e descartados. Em outras palavras, as fêmeas “leiteiras” não têm o direito de serem mães, seus filhotes são tratados como lixo ou pedaços de carne e ambos sofrem horrores com a violência da separação parental.
É imprescindível lembrar também, aliás, que a produção de leite também mata animais, ao contrário da crença comum entre protovegetarianos que deixaram há pouco tempo de comer carne. No final da vida produtiva, que pode vir entre cinco e nove anos de idade – apenas um quarto ou um terço da expectativa de vida natural – no caso das vacas, as fêmeas são mandadas à morte no matadouro.
Os fazendeiros consideram um fardo para sua economia cuidar de animais aposentados sem explorá-los, por isso não poupam as fêmeas do abate, por mais que tenham sido exploradas e exauridas ao longo da vida. Seus corpos são despedaçados no frigorífico e viram carne de segunda, couro, glicerina animal, tutano, entre outras matérias-primas.
Também são mandadas para a morte, muito antes do fim estimado de sua vida produtiva, aquelas fêmeas que têm baixa produtividade, abortaram mais de uma vez, contraíram doenças de difícil tratamento, nasceram com poucas tetas ou tiveram outros problemas que lhes impedem que “produzam” o tanto que seus exploradores querem. E o caso dos filhotes que viram vitela ou puramente lixo já foi citado.
Tudo isso tem um fundamento moral, completamente desprovido de ética: os animais não humanos, inclusos as fêmeas “leiteiras” e seus filhos, são considerados pelos pecuaristas, pela indústria de laticínios e pelos consumidores de produtos animais seres inferiores, indignos de consideração moral e direitos básicos. Acreditam que não há nada de errado em tratá-los como objetos sob propriedade de fazendeiros.
E a crença de que esses animais são “bem tratados” por fazendas adotantes de reformas de “bem-estar animal” é um mito. Essas propriedades não deixam de tratá-los como coisas sob posse de humanos, nem de explorá-los cotidianamente, nem de mandá-los para a morte violenta – ainda que rotulada enganosamente de “abate humanitário” -, nem de os privarem de direitos como a vida, o convívio familiar integral e a liberdade.
A única diferença entre elas e as fazendas industriais é que as últimas levam ao extremo o tratamento das “leiteiras” como máquinas, enquanto as primeiras lhes reservam um tratamento como “máquinas especiais” que não podem ser submetidas a estresse e desgaste “desnecessários”. No bem-estarismo não há direitos nem respeito ético para os animais vítimas da agroindústria do leite, mas sim apenas cuidados específicos que visam preservar ou otimizar a produção e aplacar um mercado consumidor seletivamente preocupado com os “maus tratos contra animais” – e que não conhece suficientemente o veganismo e os Direitos Animais.
Considerando-se esses fatos sobre a pecuária leiteira, há de se perceber que, mesmo que fosse perfeitamente saudável e supernutritivo consumir leite e derivados em altas doses todos os dias, isso não faz nenhum bem para os animais que são explorados e mortos em nome do fornecimento desses produtos. Eles são as grandes vítimas, e sua miséria supera de longe as consequências prováveis (catarro, alergias, osteoporose etc.) ou certas (para quem tem intolerância à lactose ou alergia a proteínas lácteas) de saúde humana.
Ou seja, ao contrário do que a reportagem do El País deixa a entender, humanos consumirem leite que não seja de suas mães ou de bancos de leite materno faz muito mal. Prejudica severamente vacas, cabras, ovelhas, búfalas, burras, éguas, entre todas as demais mamíferas forçadas a fornecer leite a seres humanos, e seus filhotes. Por isso, repense o consumo de laticínios e conheça alternativas veganas (confira aqui leites e queijos vegetais) que farão você não sentir nenhuma saudade do leite, do queijo, da pizza não vegana, do iogurte lácteo e da manteiga.

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