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BARATAS!

5 de junho de 2014
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Foto: Divulgação
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O trecho abaixo foi retirado do livro “A Metamorfose”, Franz Kafka” (1883-1924), escritor tcheco de língua alemã; Editora Companhia Das Letras, 2008. Tradução (excelente) de Modesto Carone (1937 – ) Sorocaba, escritor, jornalista e tradutor brasileiro.

“Quando certa manhã Gregor Samsa acordou de sonhos intranquilos, encontrou-se em sua cama metamorfoseado num inseto monstruoso”.

“Segundo a “Food and Drugs Administration” (FDA), o órgão que faz o controle dos alimentos e remédios nos EUA, uma barra de chocolate comum contém, em média, 8 resíduos de baratas. (um pedaço de 100 gramas de chocolate tem, em média, 60 resquícios de insetos variados em sua composição.) O inseto entra em contato com o doce ainda durante a colheita e armazenamento do cacau. E mais: pessoas que têm alergia ao chocolate podem, na verdade, ser alérgicas aos pedacinhos de baratas que ficam no doce. O inseto pode causar reações alérgicas em algumas pessoas, como coceira e câimbras, e cortar o chocolate da dieta é justamente um dos tratamentos recomendados a pessoas alérgicas”. Ana Carolina Prado (Jornalista/ Pós-graduação em Marketing e Jornalismo Político (IEMP)/ Acadêmica do Curso de Direito pelo CEUT/ Defensoria Pública do Estado do PI).

Entomologistas (estudiosos de insetos) afirmam que há entre 5 a 10 milhões de espécies de insetos na Terra. Só de baratas são 5 mil espécies, que vivem há 325 milhões de anos (o homem de 8 a 9 milhões de anos).

Elas são uma obra prima da evolução. E não, provavelmente não sobreviveriam a uma hecatombe nuclear. Essa estória começou após as detonações em 1945 das bombas atômicas de Hiroshima e Nagasaki, com a especulação se baratas teriam sobrevivido às explosões. Baratas são muito resistente, mas algas e bactérias são mais. Enquanto a barata americana aguenta até 20 mil rads (unidade de radiação absorvida), o caruncho de madeira aguenta 48 mil, e a mosca das frutas, 64 mil. Uma bomba como a de Hiroshima tem 34 mil rads. Ou seja, baratas não sobreviveriam.

Baratas são onívoras, tendo principal atração por doces, alimentos gordurosos e de origem animal. Sabe o que são aqueles “recheios” brancos das baratas? Gordura, e ela protege seus órgãos internos. A maior barata tem aproximadamente 20 cm de comprimento. Já a menor cerca de 4 mm e por ser tão pequena, vive em ninhos de formigas.

São noctívagas e são capazes de ingerir qualquer tipo de alimento, inclusive fios, sendo responsáveis por curto circuitos e até incêndios. A alimentação delas é variada: fezes, papel, outras baratas, doces, restos de comidas, leite, cerveja quente azeda (o alimento preferido). Como as baratas comem lixo e restos, elas podem espalhar bactérias como a “salmonella” – causada por alimentos mal cozidos e deixados em temperatura inadequada por várias horas (crescimento bacteriano mais rápido à temperatura de 37ºC); carnes, aves, frutos do mar, gema de ovo; produtos lácteos; e a “shigella” – é um germe que causa uma doença intestinal infecciosa (chamada “
shigelose” ou “disenteria”).

O que não comem de jeito nenhum, é pepino (ainda não se sabe porquê). Comem até seres humanos vivos (adormecidos) ou mortos. Uma curiosidade é que podem viver uma semana sem beber e até um mês sem comer.

Elas podem disseminar bactérias, fungos, vírus, helmintos (são vermes parasitas que causam uma grande variedade de doenças infecciosas), e protozoários patogênicos (microorganismos), causadores de doenças (conjuntivites, gastroenterites, infecções urinárias, infecções alimentares, gangrena, infecção de ferimentos, pneumonias, alergias, verminoses, micoses, amebíase, giardíase, poliomielite, hepatite, entre outras), além de suas secreções danificarem os discos de computadores. Na grande São Paulo há a relação de 300 baratas por habitante humano. Elas passam até 75% do seu tempo escondidas. Para cada barata que se vê, existem em média 50 outras em esconderijos. A barata respira por 20 aberturas laterais, podendo ficar horas sem oxigênio.

Mas somente algumas espécies de baratas representam uma ameaça para as pessoas e animais domésticos (alergias e agravamento da asma, por exemplo). São elas:

Blatella germânica” ou barata alemã, ou francesinha, ou de cozinha, ou de madeira ou paulistinha: vive, em média, 9 meses- Essa é a espécie mais difícil de controlar, pois há muito tempo convive com o homem, criando tolerância a diversos inseticidas. É responsável pela maioria das infecções. Infelizmente, todos nós contribuímos para espalhar esta barata pelo mundo, levando-a em malas de viagens, aviões, carros, sacos de supermercados, etc.;

Periplaneta americana” ou barata americana ou barata de esgoto ou barata voadora;

Supella longipalpa” ou barata castanha;

Blatta orientalis” ou barata oriental

As baratas estão relacionadas com outros tipos de insetos:

Os louva-a-deus comem uma série de insetos de praga;

Os gafanhotos digerem as plantas e adicionam nutrientes ao solo, muito parecidos com os cupins;

Os cupins podem destruir as casas e as propriedades das pessoas. Nas matas, porém, a digestão de madeira e celulose cria nutrientes para o desenvolvimento das plantas.

Apesar da sua péssima reputação como destruidoras, as baratas são uma parte importante de muitos ecossistemas. Algumas vivem em áreas quentes, tropicais, e alimentam-se de madeira e folhas em deterioração. Limpam restos orgânicos e adicionam nutrientes ao solo através do processo. Também servem de alimentos para pequenos répteis e mamíferos. Durante o processo de putrefação, elas adicionam nutrientes ao solo por meio de seus restos. Nas zonas tropicais, predominam as baratas de cor marrom avermelhada, além das cores verde e amarela. As baratas gostam de ambientes úmidos e algumas espécies preferem lugares quentes.

Quer estejam digerindo madeira numa floresta tropical ou escondidas debaixo de uma geladeira, as baratas são muito interessantes. São insetos primitivos que existiram milhões de anos antes dos dinossauros e evoluíram muito pouco desde então. Sobreviveram quando outras espécies falharam. Por exemplo, os dinossauros desapareceram há 65 milhões de anos, mas as baratas prosperaram, durante 325 milhões de anos!

Persistentes, as baratas, podem assustar gerando nojo e ódio. Porém, como todos os animais, devem ter seu direito à vida assegurado: não as mate.

Para afugentar baratas (antes, retire os animais do cômodo):

Óleo essencial de eucalipto com óleo essencial de hortelã: Misture 200 ml de álcool com 5 gotas de cada óleo. Borrife sua casa, cantos, cozinha, etc. de 2 em 2 dias;

Óleo essencial de alecrim: Mesmo processo;

Óleo essencial de cravo: Mesmo processo;

20 cravos em borrifador com 150 ml de álcool e um punhado de sal: deixe de molho por 10 dias, chacoalhar bem e depois borrifar o chão da cozinha, gavetas, etc.;

Coloque os potes de gatos e cães dentro de uma outra vasilha maior com chá de hortelã: – 5 folhas secas para 1 litro de água em infusão;

Espalhe folhas de louro por sua casa

E, no livro “A Metamorfose” de Franz Kafka, Gregor Samsa foi transformado em um besouro, não em uma barata.

O Segredo de Gregor Samsa – Por Kentaro Mori 

“Quer algo pior do que uma barata gigante? É você tornar-se uma barata gigante. É uma das obras mais famosas de Franz Kafka, “A Metamorfose”, onde o autor, digno de um Processo, em verdade nunca diz exatamente no que o protagonista, Gregor Samsa, se transformou. Todos presumimos – ou nos é ensinado! – que Samsa transformou-se em uma barata, mas o termo original em alemão, “Ungeziefer”, não é nem mesmo rigorosamente traduzível como “inseto”!

Tudo isso já tornaria a apreciação dos muitos significados de “A Metamorfose” mais saborosa – Samsa, além de todos seus problemas é injuriado como uma barata – mas Aberron de Fogonazos há alguns dias blogou sobre algo ainda mais curioso, e que efetua o nexo entre a literatura e a entomologia.

Resulta que ninguém menos que o autor russo Vladimir Nabokov (1899-1977) nasceu em São Petersburgo (Rússia), numa família da antiga aristocracia.,. mais conhecido por escrever sobre outros temas, também era um entomologista! E um estudioso de insetos particularmente dedicado, capaz de, orgulhoso, distinguir espécies através da comparação sob microscópio da genitália dos bichos. O “Museu de História Natural de Harvard” ainda possui o “gabinete de genitália” de Nabokov. Estendendo-se por fim sobre o russo, Stephen Jay Gould (1941 – 2002) Nova York, paleontólogo e biólogo evolucionista americano, analisou a relação entre a literatura e a entomologia de Nabokov.

Retornando a Kafka e ao nexo, finalmente: Nabokov lecionou sobre “A Metamorfose” de Kafka, e não apenas como autor, mas também como entomologista, tentou definir em que tipo de inseto Gregor Samsa se transformou depois de seu “sono agitado”. Da transcrição de sua palestra:

“Muitos falam em barata, o que claro não faz sentido. Uma barata é um inseto achatado com grandes pernas, e Gregor não é nada achatado: é convexo em ambos os lados, barriga e costas, e suas pernas são pequenas. Ele se parece com uma barata em apenas um aspecto: sua cor é marrom. Só isso”.

O que Samsa seria então?

“Ele é apenas um grande besouro. (devo adicionar que nem Gregor nem Kafka viram esse besouro muito claramente)”.

Uma barata, por sua repulsividade, talvez ainda soe mais impactante e absurda no contexto da “Metamorfose”, mas considere melhor o besouro:

“[Samsa] tem uma enorme barriga convexa dividida em segmentos e costas duras e redondas sugerindo um abrigo para asas. Em besouros esses abrigos escondem pequenas e frágeis asas que podem ser expandidas e então podem levá-lo por quilômetros e quilômetros em um voo errático. Curiosamente, Gregor o besouro nunca descobriu que possuía asas sob a carapaça dura de suas costas”.

Nabokov completa:

“Esta é uma observação muito boa de minha parte para ser apreciada por todas suas vidas. Alguns Gregors, alguns Joãos e Marias não sabem que possuem asas”.

E é assim que, certa manhã, ao despertar de um sonho inquieto Gregor Samsa havia se transformado em uma criatura capaz de voar, sem no entanto nunca tê-lo percebido. A beleza e o significado disto, intencional ou não, só poderia vir de um entomologista.”

* Texto registrado na Biblioteca Nacional. Reprodução permitida, desde que com todos os créditos de sua autora e de seu trabalho.

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