EnglishEspañolPortuguês

Abrigo de animais abandonados pode fechar em Sorocaba (SP)

9 de novembro de 2013
6 min. de leitura
A-
A+

Júlia Fernandes, 64 anos, aposentada e protetora de animais há 20 anos, não tem tido sossego depois que descobriu que o local onde os animais que ela cuida foi colocado à venda. Sem nenhum bem e recebendo apenas 30% da aposentadoria (o restante ela empenhou em empréstimos para erguer mais um canil no terreno que agora terá que desocupar) ela não imagina o que a vida lhe reserva a partir de agora. “Os animais são tudo pra mim! Eu vivo para eles”.

(Foto: Adival B. Pinto)
(Foto: Adival B. Pinto)

“Eles” são 122. Quarenta gatos e 82 cachorros. Mas todos, sem exceção, sabem quem manda no pedaço. Ela é o alfa da matilha. Uma reprimenda e Pantera fica quieta. Chama Melissa e ela vem. Pede pra Furacão parar de pular nas pessoas e ele obedece. Sashimi se empoleira no galho de árvore para posar para foto e Amanda abana o rabo sem parar. Sim, todos os animais de Dona Júlia têm nome, características, gostos próprios e história de vida.

Tudo na ponta da língua, embora ela não tenha nenhum arquivo físico sobre os animais. Sabe como e quando cada um chegou, a idade de todos eles, os tratamentos que fizeram ou fazem e separa os 82 cães de acordo com o temperamento. Os cinco pit bulls que ela “herdou” da Zoonoses, por exemplo, têm uma história bem triste. “Eles eram de uma senhora que foi para o asilo, a Zoonoses não conseguia ficar com eles e eu cuido deles separados dos outros, lá no fundo. Eles não deixam ninguém mais chegar perto. Ela vem visitá-los de vez em quando. É triste”, conta.

Mas a maioria dos animais abrigados por Dona Júlia, como é conhecida, são mesmo vítimas de abandono e crueldade. “Aquele chegou “morto”, cheio de feridas, tinham desistido dele. Ficou internado um mês no hospital (Hospital Saúde Animal) e ainda está em tratamento”, ela conta, apontando um animal com o pêlo ainda bastante comprometido, mas numa alegria contagiante.

Os animais chegam de diversas maneiras ao abrigo: vítimas de atropelamento, jogados pelo muro, abandonados em terrenos baldios quando estão para dar à luz ou quando ficam idosos, mas para todos ela dá um jeito de castrar e fazer o tratamento necessário. Cansada de acordar no meio da noite ou pela manhã e descobrir novos animais amarrados no portão ou jogados pelo muro, pintou na frente do terreno a frase: “ABANDONO É CRIME. AQUI NÃO É FILIAL DA ZOONOSES”. Não adianta muito, os animais continuam sendo abandonados, mesmo sem a divulgação do endereço do abrigo; e os criminosos continuam achando a coisa mais normal do mundo se desfazer de um animal que era cuidado quando filhote, mas que ao envelhecer começa a dar gastos e necessitar de mais cuidados.

(Foto: Adival B. Pinto)
(Foto: Adival B. Pinto)

Com a chegada das férias de verão, Dona Júlia sabe por experiência que o número de animais abandonados aumenta. “As pessoas se arrependem e abandonam, querem viajar, os animais crescem, elas não têm tempo de dar amor e carinho, eles dão gastos, tudo isso contribui para que mais e mais animais parem nas ruas. E sem castração, o crime ainda provoca um problema de saúde pública.”

(Foto: Adival B. Pinto)
(Foto: Adival B. Pinto)

A Lei Federal 9.605/98, em seu artigo 32 determina: “É considerado crime praticar ato de abuso, maus-tratos, ferir ou mutilar animais silvestres, domésticos ou domesticados, nativos ou exóticos.

Pena – Detenção de 3 (três) meses a 1 (um) ano e multa.

Parágrafo 1´. – Incorre nas mesmas penas quem realiza experiência dolorosa ou cruel em animais vivos, ainda que para fins didáticos ou científicos, quando existirem recursos alternativos.

Parágrafo 2´. – A pena é aumentada de 1 (um) terço a 1(um) sexto, se ocorrer a morte do(s) animal(s).”

Os atos de maus-tratos e crueldades mais comuns são:

abandono;

manter animal preso por muito tempo sem comida e contato com seus donos/responsáveis;

deixar animal em lugar impróprio e anti-higiênico;

envenenamento;

agressão física, covarde e exagerada;

mutilação;

utilizar animal em shows, apresentações ou trabalho que possa lhe causar pânico e sofrimento;

não procurar um veterinário se o animal estiver doente;

Uma história de amor

(Foto: Adival B. Pinto)
(Foto: Adival B. Pinto)

Há 28 anos, a irmã de Júlia começou a cuidar de cães abandonados. Tinha recursos próprios, era a proprietária do terreno de 600 metros quadrados e mantinha o local e os animais. O número de bichos abandonados foi crescendo cada vez mais e ela pediu que a irmã Júlia viesse morar perto para ajudar. Isso foi há vinte anos. Desde então, dedicaram-se a manter o abrigo e os animais. Há cinco anos, a irmã morreu e para manter o abrigo Dona Júlia começou a receber ajuda de alguns voluntários.

Atualmente cinco pessoas ajudam a custear as contas do abrigo. “Só a água são R$ 500”, ela explica, “lavo o espaço deles duas vezes por dia, as vasilhas são lavadas todos os dias, os cobertores (cada um tem o seu) também são lavados regularmente. Isso tudo consome muita água”. Durante esses cinco anos, ela foi autorizada a permanecer no terreno que era da irmã, mas agora terá que comprá-lo ou tirar todos os 122 animais de lá quando for vendido.

Por não ter para onde levar os animais e muito menos condições de comprar o terreno, ela se viu desesperada em busca de uma solução. “Achei que o jornal podia me ajudar, que alguém lendo a reportagem pudesse me dar uma luz. A maioria dos animais é idosa, com mais de 8 anos, alguns cegos, cadeirantes, faltando partes do corpo. São animais que ninguém quer. Tenho que ficar com eles”, ela desabafa com os olhos marejados.

Além dos cinco “anjos” que doam seu tempo e recursos materiais para os animais, ela acrescenta ainda uma porção de outros “anjos”. “Os veterinários do Hospital Saúde Animal e a doutora Carla atendem as emergências com custo mínimo, já fiquei devendo 3 meses de ração na loja e o dono esperou eu ter dinheiro e continuou entregando a ração, os vizinhos doam jornais, uma vizinha olha os animais quando eu preciso sair…”, ela enumera.

Para o dia a dia, as necessidades são muitas: principalmente medicamentos, material de limpeza e ração: mas toda ajuda é bem-vinda. Mas o que tem deixado a protetora realmente preocupada, é o fato do terreno estar à venda. Se você puder ajudar Dona Júlia a ficar junto de seus animais, se você tiver uma ideia, “uma luz” como ela diz, para que ela continue sua missão, pode ligar para ela (15-3021-8329) ou para a protetora Adriana Giliberti (15-3011-4120).

Fonte: Cruzeiro do Sul

Você viu?

Ir para o topo