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A sexta 13, o gato preto e a manga

13 de maio de 2011
7 min. de leitura
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Por Marli Delucca  (da Redação)

O calendário é um sistema para contagem e agrupamento de dias que visa atender, principalmente, às necessidades civis e religiosas de uma cultura.

A religião foi a precursora do mito de azar da sexta-feira 13, devido ser atribuída a esta data a crucificação de Jesus Cristo.

Mas se você acha que algo diferente pode acontecer nessa data, prepare-se pois em 2012, teremos três sextas-feiras 13. Qualquer mês que comece num domingo irá conter uma sexta-feira 13.

A maioria das civilizações fundamentava suas crenças em deuses oriundos da própria natureza, como os celtas que entendiam que a terra comporta-se como um autêntico ser vivo. Também tinham conhecimentos de como viver em harmonia com o planeta, da importância de manterem a terra sadia – assim sendo evitavam mutilá-la inutilmente – e até mesmo da importância de tratá-la.

Também os primeiros egípcios tinham uma atitude de respeito em relação aos fenômenos da natureza- o Sol, a Lua, e às características marcantes dos animais – a ferocidade do leão, a força do crocodilo, etc. As primeiras divindades que surgiram eram quase sempre representadas sob a forma de um animal. E como cada povoado tinha seu próprio deus, e que era frequentemente associado a umanimal da região, com atribuições e poderes diferentes.

E foi ali no Egito que o culto a Deusa Bastet surgiu

Bastet, ou  Ailuros (palavra grega para “gato”) é na mitologia uma divindade solar e deusa da fertilidade, além de protetora das mulheres grávidas. Era representada como uma mulher com cabeça de gato, e um cesto onde colocava as crias. Nos seus templos foram criados gatos que eram considerados como encarnação da deusa e que eram por essa razão tratados da melhor maneira possível. Quando estes animais morriam eram mumificados, sendo enterrados em locais reservados para eles.

Mas como toda crença aproveita algum dado para que possa ser assimilada e considerada verdadeira por muitos anos, a associação do gato ao culto da fertilidade, não foi em vão.

Os gatos  salvaram os egípcios da fome e de doenças. Por respeitarem os ciclos naturais das enchentes do Rio Nilo, que na verdade adubavam suas plantações, tinham uma enorme safra de colheita de grãos armazenada. Mas nos tempos antigos armazenar grãos era um chamariz para roedores, que não só devoravam tudo, como se multiplicavam ainda mais. A única forma de combate aos roedores eram os gatos, que não são só venerados e cuidados como deuses vivos, como também era crime punido com pena de morte levar qualquer gato para fora do país. Dessa forma, as outras nações não teriam como combater os roedores, e sem grãos, se submeteriam as imposições e aos valores que o Egito quisesse para lhes vender.

O avanço do império romano sobre as outras civilizações, podiam com o uso de armas até lhe tirar as terras, mas para dispor da mente desses povos, os romanos começaram por denegrir alguns de seus costumes.

A imagem dos gatos associados à Deusa Bastet, que era toda adornada de ouro e pintada de preto, para dar mais ênfase à associação de riqueza e de fertilidade, foi deturpada pelo romanos que passaram a caçar e matar os gatos pretos na tentativa de acabar com o culto à Deusa.

O Papa Gregório IX afirmava na bula Vox in Roma que o diabólico gato preto, “cor do mal e da vergonha”, havia caído das nuvens para a infelicidade dos homens.

Como também o povo celta possuía muitos conhecimentos da natureza, pois viviam nas florestas, todos conheciam o poder curativo das plantas. Para acabar com a resistência dos celtas ao catolicismo, a Igreja Católica pregava que os sacerdotes druidas eram bruxos. Como os druidas viviam isolados e rodeados por muitos gatos, a Igreja começou a associar os gatos às trevas, devido aos seus hábitos noturnos, pois eles plantavam de dia e se reuniam à noite, e afirmava terem parte com o demônio, principalmente os de cor preta. Milhares de pessoas foram obrigadas a confessar, sob tortura, que haviam venerado o demônio em forma de gato preto, sendo logo depois, condenadas à morte.

A Igreja Católica foi a maior perseguidora de gatos da história, e na Idade Média, travou uma dura e longa cruzada contra os gatos e os seus admiradores. No ano 1232, o Papa Gregório IX fundou a Santa Inquisição, que atuou barbaramente durante seis séculos, torturando e executando, principalmente na fogueira, mais de um milhão de pessoas, sobretudo mulheres, homossexuais, hereges, judeus e muçulmanos. Igualmente médicos, cientistas e intelectuais, e também os gatos, “ad majorem gloriam Dei”.

A mesma perseguição foi realizada no Século XV, contra os povos, adoradores de uma outra divindade a Deusa Freya, sendo que a Igreja considerava o seu culto um ato de heresia, associando-o à adoração de maus espíritos. Foram destruídas imagens da Deusa e mulheres que tinham gatos foram torturadas e queimadas vivas. Os gatos, que eram protegidos pela Deusa Freya, foram acusados de serem demoníacos, capturados, enforcados, e jogados nas fogueiras da Santa Inquisição.

A tradição mágica e outras habilidades naturais sobreviviam em alguns locais, durante a Idade Média, mas eram não-oficiais e eficazmente perseguidas pela Igreja, cuja religião monoteísta tornar-se-ia um instrumento institucionalizado do Estado. A magia tornou-se uma atividade suprimida simplesmente porque os sacerdotes da Igreja não eram adeptos da mesma, e também por não quererem correr o risco de que alguém pudesse sobrepujar as suas habilidades limitadas, e o fato de serem considerados a via única para Deus. Desta forma, tudo o que a Igreja considerava “não ideal”, seria identificado na forma de várias imagens do mal.

Dali até a Idade Média, Roma também continuou sua perseguição aos gatos pretos (poupando os gatos de outras cores que eram necessários para combater os roedores), e ao longo dos anos, enraizou na mentalidade das pessoas a crendice das bruxas e dos gatos pretos e aproveitando-se de novos conhecimentos de gênios da época como Nostradamus e Galileu Galilei, foi reforçando o mito em torno do número 13, recontando a história da última ceia, onde Judas traiu Cristo por estarem em 13 pessoas a mesa.

Hoje, resumindo ao máximo, mitos criados há mais de 2000 mil anos e perpetrados na metade destes, parece inconcebível que as pessoas se deixassem levar por essas alegações, e passassem a acreditar e viver suas vidas com base nessas superstições.

Em especial porque segundo a lógica, a feroz perseguição aos gatos incitada pela Roma, dizimando quase por completo a população europeia destes animais no Século XIV, contribuiu decisivamente para a multiplicação de ratos, que eram portadores da Peste Bubónica. A terrível consequência disso foi a proliferação da Peste Negra (Peste Bubónica), que dizimou um terço da população europeia (de 1347 a 1350).

Talvez com o advento da internet, e a facilidade na obtenção das informações, as pessoas comecem a repensar seus hábitos que foram passados de geração em geração há milênios, com base não em crenças que aprimoram e aproximam o ser humano de sua essência e da natureza, que por mais que muitos não queriam admitir tem o seu lado divino. Tem a sua beleza, os seus mistérios e as suas intempéries.

E que somente há 200 anos atrás, os senhores de engenho do Brasil conseguiram fazer com que os escravos se alimentassem menos, somente dizendo a eles que Manga com leite, fazia mal à saúde. Do leite, eram feitos a manteiga e os queijos. Como os escravos gostavam de mangas e as comiam abundantemente, os feitores espalhavam que manga com leite era veneno. Para confirmar a história chegavam ao ponto de envenenar o escravo que comia manga e bebia leite. Tudo isso em função de poupar o leite para a casa grande.

Mas, da mesma forma que o mito do azar, e do veneno, ainda hoje impera na memória de algumas pessoas, temos pelo menos muito mais formas de difundir a realidade e a verdade para elas.

Se mesmo assim você for uma dessas pessoas com medo de sexta-feira 13, saiba que isso tem nome. O medo específico (fobia) da sexta-feira 13, é chamado de parascavedecatriafobia ou frigatriscaidecafobia. E triscaidecafobia é um medo irracional e incomum do número 13.


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