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Sem fiscalização: Serra das Confusões no Piauí vira paraíso de caçadores

19 de abril de 2011
4 min. de leitura
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Na reserva não existe nenhum agente do ICMBio, órgão federal responsável pelas unidades

O Parque Nacional Serra das Confusões, na região sudeste do Piauí, nas proximidades do município de Caracol (615 km de Teresina), se transformou nos últimos anos no paraíso para os caçadores. Na reserva ambiental, que é uma das maiores do Brasil, com mais de 800 mil hectares (o equivalente a 5 vezes o tamanho da cidade de São Paulo), não existe nenhum agente do ICMBio, órgão federal responsável pelas unidades de conservação do país.

O resultado desse descaso é um verdadeiro extermínio dos animais silvestres da região, principalmente tatus, veados, caititus e uma infinidade de aves, com destaque para os jacus, zabelês e vários pássaros menores. Os caçadores que entram ilegalmente no parque nacional não precisam se preocupar com a fiscalização simplesmente porque ela nunca existiu. Nem mesmo nas duas guaritas de vigilância que foram construídas na área, os funcionários que prestam serviços ao ICMBio fazem o controle das pessoas que entram ou deixam a reserva.

Nas últimas semanas dois casos escandalosos chamaram a atenção dos ambientalistas do Piauí. O primeiro deles envolveu o procurador e ex-deputado estadual, Marcelo Coelho. Em companhia do professor da UFPI, Fabio Ferreira, do biólogo Waltércio Torres Correia e do motorista Carlos Ribeiro, eles foram emboscados por um grupo de caçadores quando faziam uma visita ao parque, na zona rural do município de Guaribas.

A situação só não ficou pior em função do motorista conhecer os caçadores e pedir calma para eles. Apesar dos visitantes encontrarem o grupo caçando em flagrante, nenhum deles foi preso, ao contrário, continuaram no local sem maiores problemas, já que a fiscalização é inexistente. O escritório do Ibama mais próximo do local fica em São Raimundo Nonato, e só conta com um funcionário que também alega não ter estrutura para realizar fiscalizações no parque, distante mais de 100 quilômetros.

O outro caso aconteceu na semana passada quando uma equipe de pesquisadores da Fundação Oswaldo Cruz, do Rio de Janeiro, fazia um levantamento na região do Parque Nacional Serra das Confusões. Novamente foram encontrados caçadores dentro da reserva federal e, apesar do grupo que contava com a bióloga Márcia Chame, da Fundação Museu do Homem Americano e com um agente de fiscalização do Parque Nacional Serra da Capivara, tomar as armas e animais dos acusados, nenhum deles foi punido, sequer foram indiciados por prática de caça de animais silvestres, crime federal.

Criado em 1998 com 502 mil hectares e ampliado em 2010 para mais de 800 mil hectares (veja abaixo), o Parque Nacional Serra das Confusões conta apenas com o chefe da unidade, o engenheiro agrônomo, José Wilmington Paes Landim, que exerce um cargo de confiança indicado por políticos do Piauí. Principalmente em função da falta de infra-estrutura da região, até hoje nenhum funcionário concursado pelo ICMBio se adaptou ao parque, os poucos que passaram pela unidade logo pediram transferência para outras áreas do Brasil.

Ampliação rendeu R$ 150 milhões ao Piauí

No dia 30 de dezembro de 2010, o Diário Oficial da União publicou um decreto ampliando de 523 mil para 823,4 mil hectares a área do Parque Nacional da Serra das Confusões. Com essa medida o Estado do Piauí foi beneficiado com um crédito orçamentário de R$ 150 milhões, “uma espécie de compensação para um Estado pobre”, justificou o presidente do ICMBio, Rômulo Mello.

O problema, segundo pesquisadores e ambientalistas, é que a área de maior biodiversidade da região, conhecida como Serra Vermelha e que segundo o IBGE abriga remanescentes de Mata Atlântica, ficou fora do trecho preservado. Com isso, a empresa carioca JB Carbon S/A, que mantém o projeto Energia Verde, de produção de carvão vegetal, poderá retomar suas atividades e transformar 78 mil hectares da última floresta do semiárido em carvão para abastecer siderúrgicas do Brasil e do exterior.

O secretário de Meio Ambiente do Piauí, Dalton Macambira e o ex-governador, Wellington Dias (PT), afirmam não acreditar na ocorrência de Mata Atlântica na área e são acusados de beneficiar a empresa. O Ministério Público Federal investiga o caso e no próximo dia 04 de maio a Assembléia Legislativa do Piauí realiza um audiência pública para discutir o imbróglio Mata Atlântica no Piauí.

Fonte: 180 Graus

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