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Eco-economia no cinema: “A carne é fraca” e a crise ambiental – parte 1

28 de agosto de 2010
4 min. de leitura
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O conceito de eco-economia debatido por esta coluna passa obrigatoriamente pela eliminação do uso de animais como “recursos” para qualquer fim. E, para educar para esta ideia, nada melhor do que um filme. É fato que pouca gente teria coragem de investir numa ideia assim. Mas a proposta do INR – Instituto Nina Rosa foi além de qualquer melindre: investigou e mostrou a verdade sobre os bastidores da utilização de animais para consumo humano no Brasil. Era de se esperar que uma organização não governamental que tem como missão a causa dos direitos dos animais desenvolvesse um material de conscientização tão competente como A carne é fraca. A boa surpresa é que este audiovisual ganhou tanta repercussão, que hoje tem até verbete na Wikipedia e recorrentemente é adotado como material didático em várias instâncias educacionais do país e nas mais variadas áreas do conhecimento. Segundo o INR, desde o seu lançamento já vendeu mais de 15 mil cópias.
A carne é fraca (2004) tem a incrível habilidade de abordar uma verdade aflitiva sob a supervisão sensível da própria Nina Rosa. É ela quem apresenta o tema como “ato aparentemente banal de comer carne, mas que interfere na saúde, no meio ambiente e no bem-estar dos animais”. E isto dá mais um crédito: o pedido de compaixão de Nina Rosa tem a capacidade de estabelecer uma comunicação eficaz com qualquer tipo de público, de crianças a idosos, passando por jovens consumistas e adultos insensíveis. O objetivo não precisa de meias palavras. “Os animais não podem se defender sozinhos de tanto abuso”, diz Nina Rosa. A carne é fraca é isto: um documentário para ser porta-voz dos animais.
Há três núcleos temáticos sobre essa execrável prática. Não há como ficar indiferente ao saber do tipo de atrocidades às quais os seres humanos são capazes em nome da movimentação de capital pela indústria. Todo o discurso é fundamentado por entrevistas realizadas com grandes especialistas e pesquisadores brasileiros nas seguintes áreas: meio ambiente, ética versus exploração comercial e saúde. Longe de ser sensacionalista, este é um testemunho daquilo sobre o que os cidadãos nunca são informados quanto aos produtos que consomem porque veem a público maquiados pela publicidade, que omite em rótulos e embalagens as barbáries e maus-tratos aos quais seres vivos são submetidos durante suas vidas inteiras.
A insustentabilidade ambiental da exploração animal
Nos últimos anos temos visto uma crescente preocupação com o impacto ambiental que nossa civilização causa ao planeta. Já estamos colhendo os frutos destrutivos disso e o tema do aquecimento global tem sido pautado em diversas produções audiovisuais. A carne é fraca leva a sério esta questão, evidenciando as consequências devastadoras ao meio ambiente da fabricação de produtos a partir de seres vivos. Ao revelar esta “pegada” ambiental, assume esse fato deliberadamente omitido em outros filmes sobre a crise ambiental, apontando-o, em todos os sentidos, como insustentável.
O impacto ambiental dessa atividade se dá, entre outras formas, pela contaminação de recursos hídricos devido à infiltração de medicamentos e hormônios, pela alteração ambiental que permite a proliferação de algas e suas consequências, além do desperdício absurdo de água. Neste último item a referência do jornalista Washington Novaes aos dados do Fórum Mundial da Água da Unesco é de máxima importância: para se obter 1 kg de carne são necessários 15 mil litros de água. A comparação anuncia a quantidade de água necessária para a produção de grãos: 1.300 litros. A simples comparação destes números já exibe o descalabro dessa invenção industrial. O documentário ainda denuncia a destruição das florestas que são transformadas em pasto, na crítica justa de João Meirelles – presidente do Instituto Peabiru de Belém, no Pará – sobre a insanidade da pecuarização da Amazônia, ainda mais quando se sabe que a Mata Atlântica, a Caatinga e o Cerrado já foram devastados para o mesmo fim.
O fato é que o problema não para por aí. Destaca-se que o modelo de agronegócios brasileiro não gera renda nem empregos, destrói recursos naturais e mantém o País como um fornecedor primário mundial. Isto é ainda mais vergonhoso, porque segue aumentando a demanda de recursos, ignora o direito dos animais e, em nome de uma economia focada no PIB, amplia as emissões de gases que agravam o efeito estufa. Os dados são relevantes para bom entendedor: dois terços das emissões colaborativas do efeito estufa hoje são de responsabilidade da pecuária, pois o gás emitido é o metano, que é 20 vezes mais nocivo que o carbono.

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