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O Benjamin sentiu cócegas

27 de agosto de 2010
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Ele estava quase dormindo e eu fui dar-lhe um carinho de boa noite. Afaguei sua cabeça. Seu dorso e suas patas também foram massageados. As almofadas plantares tão acolchoadas me pareceram bem exóticas. Passei o indicador por entre elas e daí ocorreu-me uma grande surpresa: o Benjamin sentiu cócegas! O Benjamin sentiu cócegas como eu e você sentimos! Tirou veloz a pata da minha mão e, em seguida, ficou todo ressabiado. É exatamente a mesma coisa que a gente faz quando sente cócegas: tentar desvencilhar-se do agente “cocegador”.

Aquela reação foi, para mim, não apenas completamente nova, mas também absurdamente reveladora. Se antes eu já concebia os seres humanos como nada em dissociado dos demais seres animais, naquele momento, o cachorrinho para o qual meus pais e eu tornamo-nos tutores me apareceu com maior riqueza. O continuum orgânico (entre tudo que é vivo), provado pela ciência (evolução das espécies), e o  devido continuum moral, requerido pela ética, tornaram-se, graças às cócegas do Benjamin, muito mais que claros, tornaram-se óbvios. O respeito aos corpos sencientes fez-se lei.

Não há exagero algum em afirmar que nós, animais humanos, somos muito parecidos em relação aos demais animais e, certamente, o avanço da ciência conseguirá, cada vez mais, chancelar e aprofundar essa verdade.

Ninguém está a afirmar, com isso, igualdades absolutas entre “nós” e “eles”. O que se enuncia é a existência de parecenças que não devem ser negligenciadas quando se está a lidar com vidas e que saltam aos olhos dos que se põem a contemplar os comportamentos animais que, quase sempre, se julgava tão somente “nossos”.

Enxergar o semelhante no dessemelhante, descer o humano do pedestal de suposto suprassumo planetário e criticar ativamente aqueles que se fazem valer de violências múltiplas e incoerências discursivas para justificar sua dominância sobre o restante da natureza: essas são algumas das tarefas que cabem a todos aqueles que se ocupam da construção de novos jeitos de ser, conviver e produzir pautados em um novo paradigma de existência compromissada.

Allan Menegassi Zocolotto, Vegano, membro do Grupo Abolicionista pela Libertação Animal (GALA), formado em Pedagogia (UFES, 2007) e graduando em Ciências Sociais (UFES).

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