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Filhos: não fale do que eu não quero ouvir

9 de fevereiro de 2010
6 min. de leitura
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Por que certos assuntos revoltam tanto as pessoas?

Se dermos uma busca pela Internet, este reservatório de ideias, que mais parece uma conexão mental concreta, veremos o quanto é difícil encontrarmos assuntos polêmicos sendo discutidos de maneira lúcida.

O que vemos são reacionários, fanáticos ou a mesmice de sempre, os cremes de beleza, os benefícios do chá, as dietas para emagrecer e a moda do momento.

As cópias descaradas e a repetição de assuntos na internet nos mostram uma pista, mas não o todo da questão: as pessoas não querem refletir, não querem colocar suas vidas na berlinda do pensamento. O que procuramos é sempre algo que nos alivie. Qualquer um que nos venha falar de assuntos diferentes, será ignorado ou criticado passionalmente.

Quando alguns escritores na história tentam nos falar sobre o bestialismo, por exemplo, as reações são sempre as mesmas. Muito incômodo e negação dos fatos.

Há centenas de filmes pornográficos envolvendo animais no Brasil e mundo, há diversas pessoas que praticam sexo com animais e nem se dão ao trabalho de esconder. Mas este tema, assim como muitos outros, é ignorado de forma enfática. Ninguém quer fazer nada, ninguém quer admitir não poder olhar para esta questão.

A questão de ter ou não ter filhos é algo jamais questionado pela maioria das pessoas.

Quando uma mulher admite publicamente que não terá filhos, e o faz com muita naturalidade, os comentários são sempre no sentido de menosprezar sua lucidez, dizendo que tal mulher não sabe o que está dizendo. “você nunca foi mãe e não pode saber como será”.

“Você irá mudar de ideia com o tempo e irá se arrepender.”

Interessante que para estes comentários há algumas perguntas:

Será que para eu escrever e pensar sobre a morte eu preciso morrer, pois “só então poderei saber como é morrer”?

Será que os psicólogos e psiquiatras precisam experimentar as loucuras humanas ou serem perturbados para então poder falar sobre a loucura ou ajudar pessoas com perturbações mentais?

Será então que só poderei saber o que é ser mãe se eu estiver grávida?

Logicamente não. Basta eu ser mulher e está provado que todas as fêmeas do planeta possuem instinto materno, em menor ou maior grau. Basta eu investir meu instinto materno em coisas que eu considere, como adotar crianças e animais. Coisa que poucas mulheres realmente se atrevem a fazer!

Então não me venham com chantagens idiotas e mesquinhas, por favor!

Será que se eu tiver filhos eu também não corro o risco de me arrepender, e de uma maneira mais grave, pois a criança já está ali e não tem nada a ver com o meu egoísmo naquele momento de querer ter filhos?

Será que uma mulher e um homem que não querem ter filhos têm algo de errado com sua família?

A resposta para essa pergunta é que, se as pessoas que têm filhos não tivessem nenhuma frustração em sua vida, o mundo estaria às mil maravilhas e não veríamos tanta gente depressiva por aí. Porque a maioria das pessoas têm filhos e essa mesma maioria têm inúmeros problemas familiares.

Frustrações e decepções fazem parte da vida de todas as pessoas, as que têm filhos e as que não têm.

O texto do jornalista e escritor Marcio de Almeida Bueno incomodou muito nestes últimos dias, pois ele aborda um assunto muito pertinente: a fixação doentia por ter filhos e o desequilíbrio de recursos do planeta, que está a cada dia maior.

A população humana já passa dos 6 bilhões de habitantes e os países mais desenvolvidos há muito tempo começaram a usar o bom senso, a razão e não apenas o estômago e os órgãos genitais. Estão repensando a obrigação de ter filhos e as pessoas que desejam ter filhos estão tendo um ou dois filhos por casal.

Claro que no Brasil não se pode discutir estas questões, sem a beatificação do ato.

Ele apenas demonstrou, de maneira lúcida e poética, que ter filhos no geral é algo baseado no egoísmo.

Não falou de casos isolados, nem das exceções, que existem – de pessoas que planejam ter filhos de forma organizada e coerente com sua situação financeira e psíquica.

A grande maioria das pessoas – e isto é fato, é só olhar para o lado – tem os filhos sem nunca pensar se realmente estão preparadas mentalmente, se realmente terão condições financeiras, ou se o país onde vivem as acolherá.

Pois é fato que nascer em determinados países é muito cruel. Muitas crianças nascem sem futuro algum, com nenhuma estimativa de emprego digno ou a famosa “educação”, que muitos gritam por aí como solução para tudo.

Educação aqui em nosso país a maioria tem. Mas nem por isso a corrupção e a mediocridade diminuem.

Aparentemente elas crescem a cada dia, e os motivos não estão só na escola. Estão na família também.

Hoje, fazer faculdade é algo muito comum. Mas nem por isso a competência aumentou. E por aí pode-se ter uma ideia do que é eleger a educação como algo milagroso. E continuar jogando no mundo milhares de pessoas, muitas que nasceram por acaso, sem mesmo amor e planejamento dos pais.

Vocês que se ofendem tanto com quem não deseja ter filhos, deveriam se ofender mais ainda com aqueles que os têm (e pode ser o seu caso), mas os têm de forma egoísta, como um brinquedinho de adulto.

Aqueles que não levam as crianças a sério, que menosprezam seus sentimentos e que somente pensam no “prazer de ser mãe”. Como um dia ouvi de alguém: “terei um filho apenas pela experiência de ser mãe”.

A estas pessoas é que vocês, pais exemplares, deveriam criticar e com toda a razão. A criança não é um objeto, assim como os animais não o são. Mas, na cabeça de muitos, faz parte do joguinho social ter o cão e o filho. Pode-se desfazer-se do cão. Do filho, apenas lá no íntimo. Não publicamente.

Por essa razão é que muitos se ofendem de maneira excessiva, mal leem o texto até o fim, já acham que o assunto é consigo. Esses temas mexem muito com coisas internas de cada um. Mas, caso queiram alguma melhora para o mundo realmente e para seus próprios rebentos, está na hora de ler apenas, sem levar as coisas para o lado pessoal.

O excesso de pessoas causa, sim, um desgaste de recursos naturais. Isto já está sendo estudado há algumas décadas. Já está acontecendo também.

E é egoísmo sim. O clássico egoísmo humano de achar que tudo o que existe foi feito para si e para sua querida família. O resto que se dane! Lá no íntimo da mente humana há este pensamento e é apenas por esse pensamento, e talvez pelo orgulho, que a humanidade está acabando consigo mesma.

(É de conhecimento da Biologia que, quando começa a superpopulação numa espécie, ela tende a entrar em extinção no momento seguinte. Fenômeno que ocorre de bactérias ao ser humano.)

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