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Micos ocupam área verde de bairro em Brasília há três anos

28 de janeiro de 2010
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A rotina de muitos moradores da QE 26, Conjunto B, no Guará II, tornou-se mais alegre há três anos, com a chegada de novos habitantes à região. À época, uma família de micos passou a morar em cima das árvores da quadra. Desde então, os bichos viraram atração para adultos e crianças. Há quem venha de fora da QE 26 para brincar e alimentar os animais. Os oito saguis vivem de bananas, maçãs, goiabas e pães servidos pelos vizinhos. A turma começou pequena, apenas com a mãe e o pai. Meses depois, já eram 10 integrantes. Dois filhotes morreram: um atropelado e o outro eletrocutado nos fios da rede elétrica da via. Quem ficou, desfruta de mordomias, mas o ambiente às vezes é pouco tranquilo.

Os pequenos macacos vivem em meio ao barulho de tratores, carros e motos da movimentada pista que passa em frente à QE 26. Ali fica uma estação de metrô e há várias obras por perto. Algumas pessoas suspeitam que os bichos tenham se mudado para a copa das árvores depois da devastação da mata natural da região que ficava do outro lado da rua. Refugiados no pouco verde que sobrou, eles trazem alegria à comunidade. “Estão desmatando tudo e eles correndo para se salvar”, observou o industriário Ricardo Lira, 45 anos, que fazia caminhada na manhã da última quarta-feira e parou para ver os macacos.

Foto: Daniel Ferreira
Foto: Daniel Ferreira

A família primata entra no clima da agitação e pula o dia inteiro entre os galhos. A mãe transporta os dois filhotes nas costas. Muitos se encantam com a agilidade dos micos, que atendem os chamados de quem oferta comida ou assobia. “Parece que estão brincando de pique-pega”, diz o autônomo Marcus Vinícius Cardoso, 43 anos. Ele tomou para si a responsabilidade de sustentar os micos. “Sempre gostei de animais. Todos os dias, trago banana e outras frutas para eles. O convívio com esses macaquinhos alegra a vida por aqui”, disse. Preocupado com o conforto dos novos amigos, Cardoso instalou uma pequena casa de cachorro feita em plástico azul na copa de uma mangueira. “Quando chove, eles ficam ali. É um jeito de proteger os bichinhos”, afirmou.

Espertos

A vizinhança se encanta com a inteligência desses animais. Todos os dias, às 17h, a família se posiciona de frente para a Casa 16 e começa a fazer barulho. “É o chamado para o seu Otacílio, dono da casa, vir trazer o pão para eles”, explica Cardoso. O comportamento dos micos é dócil, segundo os moradores. Porém, os animais, como era de se esperar, se irritam e reagem quando provocados. “Eles jogam goiaba em quem tenta fazer gracinha com eles”, diz Felipe Matheus, 6 anos.

As crianças até esquecem as brincadeiras com bicicletas e carrinhos para observar os micos. Ali, meninos e meninas sobem em árvores e aproveitam o contato com a natureza. “Eu nunca tinha visto um macaco solto. É muito divertido. O sagui macho comanda o bando, todo mundo segue o pai”, observou Natan Rodrigues, 10 anos. “Os pequenos também ajudam a preservar a espécie”, acrescenta Cardoso. “Um dia, um lixeiro tentou levar um deles para casa. Eu fui atrás e avisei que os miquinhos não podiam ir embora, eram da natureza. No outro dia, o homem o devolveu”, relata Gabriel Matheus Amorim, 12 anos.

Na comunidade, todos sabem que, embora gostem dos animais, não podem levá-los para casa, porque bichos silvestres não devem ser domesticados. Segundo o artigo 29 da Lei Federal nº 9.605, de 1998, é crime matar, perseguir, caçar, apanhar ou utilizar espécies da fauna silvestre nativa ou em rota migratória sem a devida permissão. A pena é a detenção de seis meses a um ano e multa.

Mas a presença dos sanguis não agrada a todos. A dona de casa Luíza Júlia Ferreira, 77 anos, teme que eles transmitam doenças. “Todo mundo trata desses bichos, dão até água e refrigerante para eles. Nunca atacaram ninguém, mas eu não confio”, relatou. Um morador chegou a entrar em contato com o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) e pediu a retirada dos animais. O órgão, porém, informou que não pode interferir, porque os bichos não fizeram nenhum mal (leia Palavra de especialista), mas informou que os saguis podem transmitir raiva e outras doenças aos seres humanos. “Como eles não mordem ninguém, a gente não se preocupa”, finalizou Cardoso.

Palavra de especialista

Agrados que fazem mal

“Não é bom alimentar animais silvestres. Não faz bem a eles nem às pessoas. Se o sagui for portador da raiva, ele pode contaminar o ser humano. As pessoas, às vezes, se enganam com a carinha bonitinha do mico e esquecem que ele pode ser muito agressivo e morder. Além disso, o ser humano pode passar doenças para o bicho. A herpes labial, quando infecta o sagui, pode matá-lo em três dias. A gripe também oferece riscos. Se a pessoa morde uma banana e dá a fruta em seguida para o animal, sem saber, corre o risco de estar dizimando uma população da natureza. Dar comida altera a dieta deles e traz um desequilíbrio, porque eles se acostumam a encontrar alimento ofertado facilmente. Essa banana que dão a eles, por exemplo, não existe da mesma forma na natureza. Achamos que fazemos bem e acabamos fazendo mal.”

Fonte: Correio Braziliense

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