EnglishEspañolPortuguês

Puro distúrbio

20 de maio de 2009
2 min. de leitura
A-
A+

É muito grave quando um jornal de enorme repercussão peca por falta de informação. Já deveria ter me acostumado aos absurdos da imprensa, mas ainda me assusto com matérias como a intitulada “Vegetarianismo pode esconder distúrbios alimentares em adolescentes”, publicada dia 11/05 pela Folha de S.Paulo.
A primeira frase já mostra que imparcialidade passou muito longe dali:
“Você passou a vida ouvindo sermão de vegetarianos sobre como quem não come carne é mais saudável? Contra-argumente: 20% dos jovens que se dizem vegetarianos na verdade sofrem de distúrbios alimentares, aponta uma pesquisa da Universidade de Minnesota (EUA).”
 
Mas a matéria não era sobre vegetarianos, mas sobre adolescentes que sofrem distúrbios alimentares como bulimia e adotaram a dieta sem nenhuma orientação. Imaginam que, ao tirar a carne do cardápio, perderão peso e pronto. Nesse caso, não é preciso ser médico pra saber que terão deficiências nutricionais. Com certeza esses adolescentes já as tinham antes de adotar a dieta mambembe, com poucas calorias e seguida de vômito depois.
 
Uma das fontes entrevistadas diz ser vegana para ir dos seus atuais 95 kg para 70 kg. Ela já tomou remédios inibidores de apetite e tem um blog, no qual conta sua luta contra a balança. Quando come três pães franceses, desculpa-se com suas leitoras. Ou seja, essas pessoas sofrem de problemas psicológicos e, apoiadas por jornalistas irresponsáveis, prejudicam o vegetarianismo.
 
Para mostrar-se ética, a matéria é finalizada com um garoto de 16 anos que, embora vegetariano desde que nasceu, tem “força o suficiente” para competir na natação. A diferença de comportamento é gritante! Enquanto este se alimenta muito bem, os demais estão doentes e devem ser anêmicos há muito tempo.
 
“Vender” a ideia de que 20% de todos os adolescentes e jovens vegetarianos nos EUA sofrem de distúrbios alimentares é um equívoco gritante. O fato de usarem o vegetarianismo para encobrir a péssima alimentação deveria ser citado na matéria, claro, já que não deixa de ser mais um ponto de atenção aos pais na descoberta de um distúrbio. Porém, essa informação foi totalmente distorcida. Como se fizermos uma pesquisa com adolescentes e jovens obesos nos EUA para descobrir distúrbios alimentares e o nosso universo fosse pessoas com sobrepeso que comem carne cinco vezes por dia, vão a churrascarias pelo menos quatro vezes por semana, sofrem de hipertensão e estão com o colesterol nas alturas. É óbvio que o resultado mostraria que muito mais de 20% dos adolescentes onívoros escondem distúrbios alimentares.
 
Uma pena que essa matéria tenha sido publicada em um caderno direcionado a jovens, cuja vontade de mudar o mundo pode ser o empurrão à dieta vegana. Quando conseguirmos unir a ciência real ao jornalismo ético, o veganismo vai ganhar peso.

Você viu?

Ir para o topo