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Quase extinto, rinoceronte negro volta a sobreviver em Tsavo

7 de abril de 2009
4 min. de leitura
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Na entrada do santuário de rinocerontes Ngulia, o guarda-parque anota a placa do veículo e explica que devemos deixar o recinto antes das 18 horas. O santuário é um parque fortemente cercado dentro do parque nacional Tsavo. A razão é obvia: os chifres de rinocerontes valem seu peso em ouro. Seu pó é considerado afrodisíaco pelos chineses. Uma fantasia que alimenta uma matança indiscriminada de animais.
Todas as precauções são tomadas para que a população de rinocerontes negros aumente no santuário Ngulia, localizado dentro do parque nacional Tsavo Oeste.
Calcula-se que em 1700 existiam cerca de 850 mil rinocerontes negros (de boca pontuda) na África. Em 1970, o número desceu para 65 mil. Nos anos 80, as quadrilhas armaram-se ainda melhor e, no Quênia, dizimaram todos os animais que não estavam nas áreas protegidas. O triste – e estúpido – é que os efeitos do chifre de rinoceronte são, comprovadamente, uma ilusão. Com tantos produtos mais efetivos para estimular seu apetite sexual, porque os chineses insistem em serem cúmplices de uma matança indiscriminada e ignorante?
O ano mais crítico para os rinocerontes negros foi 1995: apenas 2.410 indivíduos sobreviviam no continente. Em menos de três séculos, 99,7% da população foi aniquilada! No ano seguinte, a União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN) soou o alerta e passou a considerar o mamífero como Criticamente Ameaçado de Extinção. O governo do Quênia respondeu com a criação do santuário. Hoje existem quase 70 rinocerontes na reserva especial, a qual é altamente vigiada. Desde seu estabelecimento há 23 anos, Ngulia registrou um incidente de caça ilegal.
Com cerca de 70 animais em apenas 3 km2 – isso significa uma média de quatro rinocerontes por hectare ou em um quadrado de 100 metros de lado –, tudo indica que será bem fácil encontrar o tão cobiçado encouraçado. Por isso, quando vejo um grupo de girafas bebendo água, não me apresso. Os rinocerontes podem esperar, mas as elegantes donzelas não.
Três girafas Masai bebem água em um reservatório do santuário. Nessa posição, as girafas tornam-se muito indefesas, pois não podem se levantar em um movimento só.
Fred e eu continuamos a esquadrinhar a reserva, que tem uma forma retangular. As pistas de terra cruzam-se como ruas urbanas. Tenho a impressão que passo pela mesma esquina duas ou três vezes. Não encontramos nada. Mesmo se a vegetação é alta, um animal do tamanho do rinoceronte não deveria se esconder tão facilmente.
Fred está impaciente para chegar à marca dos 30 mamíferos – o rinoceronte que havíamos visto em Nakuru era o “branco”, de lábio quadrado, uma espécie diferente dessa. Assim, o rinoceronte negro contaria como novo ponto.
Meu guia está tão impaciente que decide trocar de lugar comigo. Ele passa a explorar a paisagem lá de cima da van, enquanto eu dirijo.
Mas a estratégia não traz nenhum resultado, a não ser uma breve parada para registrar a imagem (foto ao lado) de um rolieiro de peito lilás (Coracias caudata).
O sol começa a baixar, o tempo passa cada vez mais rápido e os rinocerontes continuam escondidos. Faltam apenas cinco minutos para sair da reserva e o animal mais parecido com o gigante encouraçado é um javali ou facochero (Phacochoerus africanus). Quem não se lembra do Pumba no filme Rei Leão?
Imortalizado nas telas do cinema, o javali é um personagem constante de qualquer parque nacional.
São 18:01 e chegamos à porteira. Não vimos o rinoceronte negro no lugar que seria o mais fácil de encontrá-lo.
De repente – e não mais que de repente mesmo – avistamos um animal deitado na beira da estrada. Fred não acredita na cena. Eu também não – e só rezo para que o movimento do carro não perturbe o bicho. Ele desliga o motor, não freia bruscamente e deixa o carro rolar lentamente até ficar quase ao lado do felino. É um leopardo! O último dos Big Five!
O imponente animal permanece deitado durante 6 minutos e evita olhar diretamente para nós, embora esteja bem consciente de nossa presença.
Estamos apenas a quatro metros de distância do belo felino. Fotografo o animal com cuidado, sem realizar nenhum movimento brusco. O leopardo (Panthera pardus) move ligeiramente sua cabeça e seu pescoço. Parece bem cansado. Talvez tenha sido o forte calor do dia. Ou tenha tentado caçar algum antílope, sem sucesso.
Fonte: por Haroldo Castro (Viajologia)

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