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Por que ninguém percebe a exploração - Parte 1

11 de março de 2009
3 min. de leitura
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Foto: Reprodução/Internet

Às vezes nos esquecemos de que todos nós, um dia começamos como uma célula. E, a partir desse momento, as mudanças foram ocorrendo, as organizações internas do organismo foram se desenrolando em milhares de processos antigos, mas novos ao mesmo tempo, para formar o que hoje podemos chamar de uma pessoa, uma árvore, um peixe.

E essas mudanças mínimas produzem semelhanças e diferenças em todos os organismos. Cada um dos seres que vivem nesta terra tem semelhanças entre si e profundas diferenças. A sociedade humana colocou-se acima dos outros seres, quando percebeu que possuía características “abstratas”, mas esqueceu-se de sua condição de parentesco e animalidade, esqueceu-se de olhar para o lado e verificar que outros animais possuem elementos de abstração até mais evoluídos que o nosso. Algo que não há como disfarçar e a mesma condição que nos coloca na arrogância de nos acharmos melhores do que os outros. Podemos nos esforçar para ressaltar a inteligência humana, mas fizemos pouco esforço em descobrir elementos da inteligência dos outros. Alguns animais ainda permanecem como um mistério aos olhos humanos. Além da dificuldade de descobrir certos comportamentos, numa jaula ninguém consegue ser natural. E no geral da ciência (com exceções) estudamos arremedos e nunca um comportamento natural, pois o animal está aprisionado ao nosso olhar preconceituoso.

Ao nascer, logo a percepção turva consegue ser dominada pelo condicionamento que nos seguirá para o resto da vida. Descobrimos a maneira certa de chorar, para receber o alimento, a atenção e o cuidado. Pela vida afora, seguimos da mesma forma, embora os interesses mudem.

É muito fácil deduzir, a partir daí, por que somos inclinados a hábitos e vícios complicados e perfeitamente animais. Mas não podemos nunca justificar tais vícios, a fim de permanecer com eles, pois nossa mente além dos condicionamentos é perfeitamente maleável, como acontece em toda a evolução das espécies. Ela muda, percebe novas condições e se adapta.

A humanidade se organizou às custas dos animais, a isto não há dúvidas.  Conhecemos o mundo, exploramos as coisas de todas as formas graças a nossa curiosidade primata e nosso comportamento agressivo, que também foi herdado de nosso ancestral comum a eles. Na trajetória de desenvolvimento, fomos usando os recursos da maneira mais prática; até o casamento serviu inicialmente como forma de garantia de divisão de propriedade. E segue até hoje dessa forma, mesmo que tenhamos desenvolvido nosso sentido de amor.

Mas usar o passado como justificação para o presente é, no mínimo, mau-caratismo. Porque o presente está muito alterado e não tem mais relação com o que já ocorreu nos diversos grupos humanos que percorreram o planeta em busca de sobreviver. Mudamos as condições, mudamos o ambiente, nós mudamos também e aumentamos significativamente. Nosso organismo mudou. E as discussões estão mudando também. De nosso intestino herbívoro, passamos por períodos de caça e coleta, até vivermos hoje na versatilidade da escolha. E quanto ao passado, apenas aprendemos com ele, pois o ambiente mudou e tudo ao nosso redor muda. O passado já passou. Não haveremos de voltar a ser o que éramos. A perspectiva moral pode nos acordar no momento certo, em qualquer parte de nossa vida. Esperamos que não seja tarde e que não usemos justificativas para mascarar esta força dentro de nós.

Bibliografia consultada:

WRANGHAM, R., PETERSON, D. O Macho Demoníaco: As Origens da Agressividade Humana. Comportamento, 1998.

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